ENTREVISTA A RUI SANTOS, CEO DA ARQUICONSULT
A Arquiconsult ativou, logo no início desta pandemia, mais precisamente no dia 9 de março, o seu Plano de Prevenção com o objetivo de garantir que as suas equipas iriam manter-se seguras e informadas e, dessa forma poderiam assegurar remotamente a prestação de serviços aos seus clientes e parceiros sem interrupção.
Estivemos atentos desde cedo a tudo o que se estava a passar na China. A 9 de Março foi explicado internamente o que aí vinha. Foi dada a possibilidade a todos de poderem trabalhar a partir de casa e já estávamos razoavelmente informados de que o período para tal rondaria os 3 meses. A adesão ao teletrabalho não foi imediata porque as pessoas continuaram a preferir trabalhar nos clientes e no escritório. A 12 de Março a administração da Arquiconsult resolveu então fechar os seus escritórios em Lisboa e Porto e começou então o confinamento de forma obrigatória. Na altura nem um plano foi, e sim apenas uma medida única de confinamento. Depois então tudo foi planeado e sentimos que estamos preparados para o tempo que for necessário.
Sendo a Arquiconsult uma empresa de sistemas de informação, deduzo que tinham todas a ferramentas e condições para que os colaboradores efetuassem o trabalho remotamente. Assim sendo que ajustes foram necessários para que as equipas continuassem a operar normalmente?
Apenas e só, ajustes de ordem de gestão de pessoas, porque o resto estava tudo já operacional e já era usado. Na realidade o grande trabalho está depositado todo ele na nossa Direção e nas chefias de projeto. São estes níveis da empresa em que tudo muda muito mais. A organização do trabalho, a sua modificação, feita de forma diferente por diversas pessoas devido ao tamanho diferente das equipas, à natureza do trabalho de cada um, foi o que mudou mais. O teletrabalho é mais exigente ao nível das chefias intermédias do que em todos os restantes níveis. São eles que, organizando, ajudando as suas pessoas, controlando e verificando os resultados, conseguem fazer com que na realidade pouco tenha mudado nas equipas.
Considera que é possível, em regime de teletrabalho, continuar a manter a qualidade de resposta e de operações junto dos clientes?
Totalmente. Na nossa atividade existem alguns trabalhos que têm mesmo de ser realizados presencialmente. Nesta fase ganhámos diversos projetos novos já pensados para serem executados à distância. Tivemos alguns clientes, principalmente internacionais, a perguntar se tínhamos capacidade de operação mesmo durante a pandemia. Sempre afirmámos que sim e mais tarde conseguimos comprová-lo.
Em que medida esta pandemia já afetou o volume de faturação da empresa?
Se quisermos ser realistas em medida nenhuma. O período atual está a correr exatamente como planeado. Estamos acima da faturação do ano passado no primeiro trimestre e já sabemos que a partir de maio vamos estar mais abaixo do que no ano anterior, mas isso já estava previsto porque no ano passado tivemos alguns dos melhores meses de toda a vida da Arquiconsult por esta altura do ano. Abril foi um mês bastante normal em termos de atividade. A grande preocupação nem sequer é económica, mas sim financeira com os recebimentos a terem de ser muito bem controlados nesta fase. As indicações que temos até ao momento é que mesmo nessa área estamos no período ainda considerado bastante normal.
Passando o foco para os recursos humanos, com uma equipa de mais de 150 colaboradores, que estratégias utiliza para manter a equipa focada, motivada e empenhada?
É algo que fazemos sempre. Existem algumas ações, mas em geral a preocupação com o bem-estar de todos, o disponibilizar de todas as condições para fazerem um bom trabalho e algumas ações de convívio entre todos, são a receita. Duas vezes por ano passamos juntos 2 dias com todos em eventos de Natal e Verão, são o total de 4 dias onde as pessoas se conhecem mutuamente e onde podem conviver fora do trabalho. Estas ações são realizadas por todo o país e já uma vez em Espanha. Depois a própria organização continua bastante achatada. Por outro lado, pedimos e ouvimos e refletimos sobre todas as propostas apresentadas pelos colaboradores para melhorar as suas condições de trabalho. Finalmente estamos entre as empresas que melhor pagam no nosso setor.
Pensa manter de futuro, algumas das medidas agora adotadas nesta fase de pandemia? Nomeadamente mais reuniões por Microsoft Teams, regime de teletrabalho, flexitime?
Sim, até porque já tinham sido testadas antes. Acabámos de dar a opção a qualquer diretor desta casa para autorizar teletrabalho (fora da pandemia) até 4 semanas sem que tenha de falar com ninguém. Avaliamos sempre caso a caso, mas existe a possibilidade de ser usado. No que refere às ferramentas elas sempre estiveram disponíveis e já eram usadas dado que temos muitos projetos no estrangeiro onde nem sempre é possível estar presencialmente e, ainda por cima, temos escritórios em Lisboa, Porto, Barcelona e Luanda pelo que era inevitável ter este tipo de ferramentas já em utilização. Existem muitos projetos nos quais equipas são formadas com consultores de mais de um país ou cidade e onde é mesmo necessária a colaboração à distância. Há anos que o fazemos.
A Arquiconsult levou a cabo algumas ações de solidariedade social durante este período. Quer falar-nos um pouco destas iniciativas?
São tantas que temo não me lembrar de todas. Por um lado, a Arquiconsult já apoia normalmente e mensalmente a Amovalflor, uma instituição que funciona como creche para pessoas mais desfavorecidas e tem um centro de dia para idosos. Depois estamos a doar máscaras e viseiras. Já doámos à Polícia, vamos doar a diversas instituições. Esperamos apenas pela chegada da maioria das máscaras N95 para proceder a uma maior distribuição. No total serão 1000 viseiras das mais fortes e 11 000 máscaras N95. Mas o programa mais caro até ao momento foi a distribuição de 29 portáteis para uma escola da Serra da Luz que vão servir para alunos carenciados poderem ter aulas online. Estamos a preparar mais 6 portáteis com este fim e estamos a esperar conhecer as necessidades em termos de comunicações para avançar também com 35 ligações pagas por nós. Depois estamos a contruir uma plataforma em conjunto com a Câmara Municipal de Odivelas, a 3Dways para o projeto Covid19 voluntários. Resumidamente esta plataforma vai ligar as necessidades das IPSS de todo o país com os voluntários e doações para as colmatar. O licenciamento foi já garantido por um período de 6 meses gratuitos pela Microsoft. Teremos mais um conjunto de ajudas ao longo do ano, mas ainda as estamos a preparar.
Para terminar, o que espera ainda desde ano de 2020? Perspetivas futuras?
O objetivo é igualar o melhor ano de sempre, que foi o ano passado. Tivemos um excelente ano baseado em diversos fatores de crescimento, tendo sido o mais importante as alterações legais angolanas (IVA e restantes medidas tomadas) que nos deram um grande crescimento naquele mercado, influenciando também os resultados em Portugal. Este ano não temos tanto este fator, pelo que esperamos apenas igualar o ano passado. Estamos ainda acima do ano passado em faturação pelo que não é impossível atingir o objetivo. Num cenário como o que vivemos, não podemos pedir muito mais que isto, neste momento. De futuro, o investimento na diversificação da empresa e a sua expansão, particularmente em Vial Real onde criámos uma empresa de nearshoring e em Barcelona onde o potencial do mercado ainda tem muito para explorar, serão as principais regiões de crescimento. Avaliamos também a mobilidade elétrica como algo novo que talvez experimentemos. Este último plano estava em avaliação quando a pandemia começou e, como tal, ainda não avançou, mas esperamos poder reavaliar em Setembro. Para já, é só isto que vamos fazer este ano. Para o futuro, teremos ainda investimento em nearshoring a partir de Portugal como vetor de crescimento, mas um dos planos já foi travado por nós e nossos parceiros, porque a pandemia afetou muito a Europa e os nossos parceiros Belgas. Portanto para já é esperar, até porque o mundo pode ainda mudar bastante e não vale a pena estar a avaliar tudo sem sabermos melhor o que se vai passar.